Descubra como uma das maiores obras da Nintendo teve inspirações inesperadas no clássico anime de Hayao Miyazaki
Apesar de “A Viagem de Chihiro” ser frequentemente vista como a obra-prima definitiva do Studio Ghibli, muitos fãs de animação japonesa concordam que Princesa Mononoke representa o ápice narrativo e visual da carreira de Hayao Miyazaki. Agora, décadas após o lançamento de The Legend of Zelda: Ocarina of Time, o lendário criador da franquia, Shigeru Miyamoto, revelou que o icônico jogo da Nintendo foi, de forma inconsciente, influenciado por esse clássico do Ghibli.
Em entrevista à revista Gamejin (traduzida pela GoodBlood Games), Miyamoto explicou como elementos visuais, temáticos e até de design de personagens acabaram se conectando com o filme japonês – e tudo isso aconteceu sem que sua equipe percebesse de imediato.
A conexão entre Zelda e Mononoke: paralelos reveladores
Segundo Miyamoto, tanto Ocarina of Time quanto Princesa Mononoke estavam sendo desenvolvidos praticamente ao mesmo tempo, durante meados da década de 1990. Quando ambas as obras ficaram prontas, o próprio criador de Zelda se disse “surpreso com as semelhanças”.
“Cenas de Link disparando o arco enquanto cavalgava Epona ou do Gigante Goron caminhando atrás da montanha me fizeram pensar: ‘Esse é o Ashitaka!’ ou ‘Parece o Andarilho Noturno’. Tivemos muita dificuldade com as semelhanças”, revelou Miyamoto.
Esses paralelos não são meramente visuais. A jornada do herói solitário em meio a um mundo em conflito, o foco em criaturas espirituais e a conexão profunda com a natureza estão presentes em ambos os títulos. Epona, a montaria icônica de Link, por exemplo, foi inicialmente pensada como um animal mais fantástico — um unicórnio ou mesmo um alce — algo muito próximo do que é Yakul, a montaria de Ashitaka.
Link e Ashitaka: heróis conectados pela essência
Se olharmos mais de perto, as semelhanças entre Link e Ashitaka vão além da estética. Ambos são jovens destinados a proteger suas terras, possuem uma conexão espiritual com a natureza e enfrentam forças sombrias que surgem da ambição humana. Seus trajetos envolvem sacrifício, amadurecimento e decisões morais difíceis, elementos que elevaram tanto Zelda quanto Mononoke a patamares de obra-prima.
Além disso, é interessante notar que ambas as obras representam uma mudança significativa no tom das produções de seus criadores. No caso de Zelda, Ocarina of Time marca o momento em que a franquia assume um lado mais sombrio, especialmente ao mostrar Ganondorf dominando Hyrule e o impacto dessa queda no reino. Já em Mononoke, Miyazaki aborda temas pesados como a destruição ambiental, guerra e a dualidade do bem e do mal, sem respostas simples.
A estética de Mononoke e o design de Hyrule
Os mundos retratados em Ocarina of Time e Princesa Mononoke compartilham uma beleza selvagem, com florestas densas, ruínas misteriosas e uma atmosfera quase espiritual. Esse elemento visual também reforça o elo entre as duas obras. As montanhas onde vivem os Gorons lembram os locais sagrados habitados pelos espíritos da floresta no anime, enquanto as áreas como Kokiri Forest evocam a ambientação das tribos florestais de Mononoke.
Miyamoto reconheceu que essas inspirações não foram propositais, mas surgiram de forma natural, pois os times de desenvolvimento — tanto da Nintendo quanto do Ghibli — compartilhavam valores culturais, preocupações sociais e uma visão artística similar.
A importância cultural de duas obras-primas
Tanto Ocarina of Time quanto Princesa Mononoke são consideradas obras definitivas em seus respectivos meios. O jogo da Nintendo é constantemente eleito como um dos melhores de todos os tempos, enquanto o filme de Miyazaki é aclamado por sua profundidade filosófica e impacto emocional.
Mais do que simples entretenimento, essas obras representam reflexões profundas sobre o ser humano, a natureza e o equilíbrio entre civilização e espírito. Saber que elas, de alguma forma, influenciaram uma à outra apenas fortalece ainda mais sua importância na cultura pop mundial.
o poder das influências inconscientes
As revelações de Shigeru Miyamoto mostram que, mesmo sem intenção, artistas visionários podem se inspirar mutuamente quando compartilham os mesmos ideais. Ocarina of Time e Princesa Mononoke nasceram quase simultaneamente, mas o espírito de um pode ser sentido no outro — seja na jornada do herói, na estética naturalista ou nas sombras que ambos enfrentam.
Essa conexão inesperada entre Zelda e Ghibli é mais uma prova de como as fronteiras entre games e cinema estão cada vez mais sutis, e como histórias bem contadas, não importa o meio, deixam marcas eternas.