Hideo Kojima Criador de Death Stranding levanta debate sobre o perigo da vida guiada por algoritmos
A ascensão da IA e o alerta de uma mente criativa dos games
A inteligência artificial vem se tornando uma das maiores forças transformadoras do século XXI, especialmente na indústria de jogos. A promessa de mundos procedurais, personagens que interagem de forma autêntica e experiências imersivas fez da IA uma aliada poderosa na criação de universos interativos.

Contudo, nem todos veem esse avanço com otimismo absoluto. Hideo Kojima — lendário criador de Metal Gear Solid e Death Stranding — ofereceu uma perspectiva mais cautelosa e original sobre o impacto da IA em nossas vidas. Em entrevista ao site japonês Denfaminicogamer, o diretor expressou preocupações profundas e inusitadas sobre os rumos da tecnologia.
“A IA nos empurra para estilos de vida pré-moldados”, diz Kojima
Kojima não rejeita a tecnologia. Pelo contrário, ele a considera uma ferramenta poderosa, principalmente no desenvolvimento de jogos. No entanto, sua inquietação vai além do lugar-comum. Ele compartilha que até mesmo a IA presente em seu smartphone já o incomoda.

“A IA do meu celular me apresenta todo tipo de coisa. Também não gosto disso”, afirma Kojima. “Estou preocupado que, por estarmos muito conectados online, sejamos involuntariamente levados a um estilo de vida predefinido.”
O receio de Kojima não está centrado apenas na automação ou na substituição de humanos, mas no condicionamento sutil das decisões humanas por meio de algoritmos. Essa visão vai além das preocupações habituais com desemprego ou fake news: trata-se de liberdade individual sendo moldada silenciosamente.
Internet, conveniência e dependência: o paradoxo moderno
Apesar da crítica, Kojima reconhece a importância das tecnologias digitais. Segundo ele, a Internet foi essencial durante a pandemia de Covid-19, permitindo que o mundo mantivesse algum senso de normalidade. Ele valoriza essa conectividade — mas com ressalvas importantes.
“Não acho que devamos ficar sem a Internet agora. É muito conveniente. Acho que sobrevivemos à pandemia de Covid-19 graças a ela. Mas acho perigoso nos tornarmos tão dependentes.”

Essa afirmação nos leva a refletir: até que ponto a comodidade da tecnologia justifica o custo da autonomia humana? Kojima coloca a questão com firmeza, apontando que é fácil aceitar o caminho oferecido pelas máquinas, mas difícil perceber quando se perde o controle sobre as próprias escolhas.
O físico ainda importa — e muito
Um dos trechos mais impactantes da entrevista é quando Kojima fala sobre o valor da experiência real. Para ele, o contato físico com o mundo é insubstituível, mesmo diante das promessas do metaverso ou das realidades virtuais.
“Você pode ir ao Havaí no metaverso, mas é completamente diferente quando realmente vai lá. Primeiro você vai ao aeroporto, depois pega um avião e, ao chegar lá, há cheiros e temperaturas que só pode experimentar lá.”

Essa visão reforça o argumento de que a vivência concreta dá sentido à existência humana. As sensações físicas, os desafios logísticos e até os imprevistos são parte do que torna uma experiência memorável. Para Kojima, é essa realidade que dá cor à vida — e não um simulacro digital.
Hideo Kojima não está contra a tecnologia — ele está a favor da humanidade
É importante ressaltar: Kojima não é tecnofóbico. Seus jogos sempre exploraram temas futuristas, inteligência artificial e realidades alternativas. O próprio Death Stranding aborda conexões digitais e isolamento humano de forma profunda. O que o diretor japonês propõe é um uso consciente e crítico das tecnologias emergentes.

Seu alerta é pertinente: estamos vivendo um momento em que a inteligência artificial molda gostos, decisões e comportamentos, muitas vezes sem percebermos. Para Kojima, é essencial preservar o que nos torna humanos — nossa capacidade de escolha, nossas experiências físicas e a liberdade de viver além dos algoritmos.
Kojima nos convida a pensar antes de seguir o fluxo
Hideo Kojima tem uma das mentes mais criativas da indústria dos games, e quando ele fala, vale a pena ouvir. Em vez de repetir discursos apocalípticos ou utópicos sobre a inteligência artificial, ele oferece uma visão mais profunda: a de um mundo onde a IA pode restringir nossa autonomia, mesmo com as melhores intenções.
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Seja você gamer, desenvolvedor ou apenas alguém curioso sobre o futuro da tecnologia, a mensagem é clara: não devemos deixar que a conveniência nos roube o controle sobre nossas vidas.