Cancelar jogos após 10 anos é um erro, diz gerente da EA

“Se um jogo ficou em desenvolvimento por 7 a 10 anos, cancelá-lo parece a pior decisão.”

Essa frase direta e impactante do gerente geral da EA no Japão, Shaun Noguchi, repercutiu fortemente na indústria após os recentes cortes da Microsoft, que incluíram o cancelamento de títulos esperados como Everwild e o reboot de Perfect Dark. A declaração veio após uma série de demissões em massa no setor de games, em meio a uma fase de reestruturação anunciada pela Microsoft no início de julho de 2025.

Fontes: Everwild foi cancelado enquanto demissões da Xbox atingem a Rare :  r/gaming

O que aconteceu com a Microsoft?

A Microsoft anunciou, em 3 de julho de 2025, uma reestruturação interna que afetou diversos setores da empresa — especialmente a divisão de jogos. Cerca de 9.100 funcionários foram demitidos, com cortes impactando estúdios como The Initiative e a desenvolvedora de The Elder Scrolls Online, responsável por um MMORPG ainda não anunciado.

Elder Scrolls Online: nova expansão High Isle aumenta o universo do jogo

Entre os jogos cancelados, estão dois títulos bastante aguardados: Everwild, da Rare, e Perfect Dark, da The Initiative. Ambos foram anunciados entre 2019 e 2020 e já estavam em desenvolvimento há anos, gerando frustração tanto entre os fãs quanto entre os próprios desenvolvedores.


Reações da indústria: solidariedade e crítica

Um dos comentários mais notáveis sobre essa decisão partiu de Shaun Noguchi, gerente da EA Japão, que expressou tristeza e solidariedade com os afetados. Em seu perfil na rede X (antigo Twitter), ele afirmou:

“A indústria de jogos é sustentada por cada criador e membro da equipe que desenvolve jogos diligentemente em campo. Como alguém do mesmo setor, sinto uma profunda dor por esta decisão.”

Embora tenha destacado que suas opiniões não representam oficialmente a EA, Noguchi criticou duramente a cultura empresarial que prioriza resultados de curto prazo para agradar acionistas, em detrimento de projetos de longa duração e do esforço das equipes envolvidas.


Cancelar jogos depois de anos: “a pior decisão”

Ao ser questionado sobre o motivo de tantos jogos serem cancelados mesmo após tantos anos em desenvolvimento, Noguchi foi direto:

“Se um jogo esteve em desenvolvimento por 7 a 10 anos, cancelar parece a pior decisão. Isso representa uma década de trabalho, potencialmente um quarto da carreira de alguém completamente perdida.”

Ele ainda complementou que, mesmo que o jogo final não seja exatamente o que os jogadores esperavam, ele ainda merece ser lançado, pois “alguma coisa é melhor do que nada”.

Esse posicionamento encontrou eco nas palavras de Seamus Blackley, cocriador do Xbox, que declarou no Bluesky:

Think of the number of great games that had troubled development histories. All of them?Now consider how often executives cancel troubled games.Smooth development comes only when you take no risks. Greatness comes only when great risks are braved. Do the math.

Seamus Blackley (@seamus.bsky.social) 2025-07-02T15:21:10.353Z

“A grandeza só acontece quando grandes riscos são enfrentados.”


A questão cultural: Japão vs Ocidente

Em suas declarações, Noguchi também comentou sobre a forma como o termo “reestruturação” é interpretado:

“No Ocidente, reestruturação é vista como algo positivo. No Japão, a palavra é imediatamente associada a demissões.”

Essa diferença de percepção cultural pode explicar parte da reação negativa no mercado asiático às decisões tomadas pela Microsoft, e destaca a importância de considerar contextos regionais ao comunicar mudanças corporativas.


O que esperar daqui pra frente?

Com os cortes já realizados, a Microsoft afirma que agora irá “focar em áreas de crescimento estratégico”, segundo comunicado interno do CEO da Microsoft Gaming, Phil Spencer. Segundo ele, as escolhas difíceis são necessárias para garantir o sucesso de longo prazo da marca Xbox, priorizando títulos com maior potencial de retorno.

Phil Spencer não vai sair da Microsoft “tão cedo”, garante Xbox após rumores

Apesar disso, há uma sensação crescente na indústria de que decisões como essa podem sufocar a criatividade e a inovação a longo prazo, especialmente em jogos que exigem anos de investimento antes de se tornarem comercialmente viáveis.


Conclusão: o custo de cancelar sonhos

O cancelamento de jogos após quase uma década de desenvolvimento não afeta apenas a parte financeira das empresas. Ele representa tempo, energia e paixão desperdiçados por centenas de profissionais, e tira dos jogadores a chance de experimentar títulos que poderiam ter deixado sua marca no mercado.

The Elder Scrolls Online | Xbox

A fala de Shaun Noguchi ecoa como um apelo: é preciso pensar além dos lucros imediatos. A indústria de games, que se constrói em cima de riscos criativos e longos ciclos de desenvolvimento, precisa encontrar um equilíbrio entre resultados e respeito ao trabalho de seus criadores.

leia mais sobre microsoft

Deixe um comentário