A Visão de Hideo Kojima: Uma Jornada Ainda Mais Intensa e Complexa
Hideo Kojima, o mestre por trás de narrativas intrincadas e experiências de jogo singulares, retorna com Death Stranding 2: On The Beach, uma sequência que não apenas aprofunda os temas e mecânicas do original, mas também os expande de maneiras surpreendentes e, por vezes, chocantes. Lançado seis anos após o primeiro título, On The Beach mergulha os jogadores em um mundo pós-apocalíptico ainda mais denso, repleto de mistérios, dilemas filosóficos e uma trama que desafia as expectativas a cada reviravolta. [1]

O jogo começa com Sam Porter Bridges tentando levar uma vida tranquila e isolada com a pequena Lou, agora uma criança. No entanto, essa paz é efêmera. A inevitabilidade do destino de Sam como “entregador” o puxa de volta para a ação, mas de uma forma que ele jamais esperaria. A narrativa de Death Stranding 2 é uma teia complexa de viscosidade – alcatrão, lodo, óleo, sangue – que permeia não apenas o ambiente físico, mas também as relações e os segredos que vêm à tona. [1]
Kojima utiliza essa sequência para explorar temas que há muito tempo ressoam em sua obra: a relação da humanidade com a tecnologia, a expressão individual versus a imposição da inteligência artificial, e a cultura armamentista. Essas discussões, embora presentes em jogos anteriores como Metal Gear Solid, ganham uma nova urgência em Death Stranding 2, refletindo as preocupações contemporâneas sobre o avanço tecnológico e seu impacto na sociedade. [1]
A Trama Desvendada: Traições, Sacrifícios e Revelações Chocantes
O Retorno de Higgs e Seus Planos Apocalípticos
Um dos maiores choques de Death Stranding 2 é o retorno de Higgs, o antagonista do primeiro jogo. Trazido de volta à vida pela APAS 4000, uma organização que busca automatizar as entregas e tornar os portadores humanos obsoletos, Higgs não é um mero fantoche. Ele utiliza seu novo corpo robótico para orquestrar um plano de vingança pessoal e, mais uma vez, tentar desencadear o “Último Encalhe” – o fim do mundo. [2]

No primeiro jogo, Higgs tentou usar Amelie, uma Entidade de Extinção, para provocar o evento apocalíptico. Desta vez, seu alvo é Tomorrow, uma jovem com poderes misteriosos que permitem acelerar a decadência através do alcatrão. Higgs pretende usar Tomorrow como uma nova Entidade de Extinção para aniquilar a vida humana e, de quebra, eliminar Sam e Fragile. Embora Sam consiga derrotar Higgs em um confronto épico que envolve duelos de espada, batalhas de guitarra elétrica e uma boa e velha briga de punhos, Higgs consegue cumprir um de seus objetivos mais cruéis. [2]
O Sacrifício de Fragile e a Verdadeira Identidade de Lou
Durante grande parte de Death Stranding 2, somos levados a crer que Fragile sobreviveu ao ataque de Higgs, mas que Lou, a bebê que Sam cuidou no primeiro jogo, havia morrido. A verdade, no entanto, é muito mais dolorosa e complexa. Fragile, usando seus poderes de teletransporte transdimensional, enviou Lou para o mundo dos mortos para protegê-la, enquanto ela própria foi morta por Higgs. [2]

Devido à dilatação do tempo e à natureza distorcida da vida e da morte no universo de Death Stranding, a Fragile que acompanha Sam e a tripulação do DHV Magellan durante o jogo é, na verdade, a alma de Fragile. Ela temporariamente deixou seu corpo para trás para ajudar Sam a derrotar Higgs, deter a APAS 4000 e reconectar o mundo. Infelizmente, seu tempo no mundo dos vivos é limitado, e ela morre de verdade no final do jogo. [2]

E quanto a Lou? A grande revelação é que Lou foi poupada no ataque de Higgs no México porque Fragile a enviou para outra “praia”, efetivamente outra dimensão. Lou cresceu no mundo dos mortos, manifestada como a soldada Neil Vanna. Anos depois, Sam Porter Bridges acaba lutando contra Neil nesse mundo e, inadvertidamente, resgata Lou, que não é outra senão Tomorrow. Sim, Tomorrow é a mesma bebê Lou que Fragile enviou para longe no início do jogo. Lou, abreviação de Louise, é também a BB-28 que Sam carregou pela UCA em Death Stranding, e, mais do que isso, é a filha biológica de Sam. [2]

Novos Personagens e Suas Conexões
Death Stranding 2 introduz uma série de novos personagens que enriquecem a narrativa e aprofundam os temas de conexão e companheirismo. Rainy, com seus poderes ligados à chuva temporal, e Tomorrow, a enigmática figura com a capacidade de manipular o alcatrão, são exemplos de adições que trazem novas dinâmicas e mistérios à trama. [3]
O Dollman, um boneco falante que acompanha Sam em sua jornada, serve como um companheiro constante, oferecendo comentários e, por vezes, interpretações de temas complexos. Ele é uma espécie de Mimir de God of War, mas em vez de contos mitológicos, ele oferece reflexões sobre obras como Moby Dick e até mesmo comentários sobre o cheiro de Sam. [1]

O elenco de personagens, embora com nomes por vezes peculiares, possui personalidades nuançadas que se revelam em momentos cruciais da história. Pequenas idiossincrasias, como contrações faciais ao ouvir revelações ou o menor dos lacrimejamentos, adicionam profundidade a esses indivíduos, cujos rostos são incrivelmente realistas graças à tecnologia de captura de movimento e performance. [1]
Norman Reedus continua sua interpretação estoica de Sam Porter Bridges, ancorando a história com uma abordagem calma e centrada. Sam, mais uma vez, serve como um veículo para a história, permitindo que o elenco de apoio brilhe. Léa Seydoux encanta como Fragile, uma personagem multifacetada que a atriz eleva ainda mais. Elle Fanning é fantástica como a enigmática Tomorrow, e o misterioso Red Samurai exala carisma. É o tipo de estilo elegante que se espera do artista Yoji Shinkawa, que mais uma vez demonstra seu domínio no design de personagens. [1]

Troy Baker retorna como Higgs, roubando a cena em cada aparição. Ele recebe a liberdade de trazer uma intensidade ainda mais operística ao personagem, completo com uma máscara arrepiante e uma guitarra elétrica carmesim. [1]
Evolução da Jogabilidade: Mais Ação, Menos Monotonia
Death Stranding 2 mantém a essência de jogabilidade do original, focada em entregas e travessias por ambientes desafiadores, mas com uma série de melhorias que tornam a experiência mais dinâmica e menos “chata”, um adjetivo que por vezes assombrou o primeiro jogo. [3]
Combate Aprimorado e Influências de Metal Gear
Uma das maiores mudanças é a ênfase no combate. Sam começa o jogo com uma arma, um contraste notável com o primeiro título, onde armas letais eram adquiridas muito mais tarde. A sequência foca nos “bastões metafóricos” para afastar perigos, tornando o jogo mais intenso. Elementos de Metal Gear Solid são inseridos de forma refrescante, evitando a monotonia das entregas. A furtividade e os tiroteios remetem diretamente a Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, proporcionando uma experiência de ação que não se via em um jogo de Kojima há muito tempo. [3]

O jogo incentiva o jogador a entrar em batalha, com muitos momentos de combate ao longo da campanha. As EPs (Entidades de Praia) são uma ameaça mais visível e podem ser abatidas de diversas formas, incluindo um divertido bumerangue hemático. Há até mesmo um novo tipo de EP que realmente enxerga Sam, em vez de apenas sentir sua presença. As grandes batalhas contra EPs gigantes também se tornaram mais divertidas, com uma mecânica que remete aos clássicos filmes de kaiju. [3]
No entanto, a parte mais “Metal Gear” do jogo reside nos confrontos contra Robôs Fantasmas e humanos. A sensação desses embates é a mesma de jogar Metal Gear Solid V, especialmente ao invadir bases rivais para retomar cargas ou destruir dispositivos. Seja nos tiroteios, onde largar a mochila antes de atirar facilita as coisas, nas ações furtivas – que podem ser realizadas com uma pistola e um rifle tranquilizante, algo muito característico de Metal Gear – ou nos combates veiculares, Death Stranding 2 traça paralelos ainda mais fortes com a icônica franquia de ação e espionagem de Kojima. [3]

Todas as novas interações de combate tornam o jogo mais divertido e dão uma cara de ação que não se via em um jogo de Kojima desde Metal Gear. Os trechos da campanha focados em Neil mostram como os tiroteios de Death Stranding 2 superam o antecessor e como todas as batalhas neste jogo são mais interessantes, até pela agressividade dos inimigos e EPs ser maior, o que torna certas travessias ainda mais arriscadas. [3]
Além disso, há uma árvore de habilidades do sistema APAS que progride com as entregas e com o desempenho em combate, podendo ser ajustada a qualquer momento para se adequar à abordagem de gameplay do jogador. [3]
Travessia e Exploração Aprimoradas
O momento a momento da estrutura de jogo permanece em grande parte o mesmo: interagir com um terminal para pegar uma ordem de entrega, planejar a rota, preparar o inventário e partir. No entanto, após as primeiras horas, um foco diferente se torna aparente, dobrando a aposta em uma revisão pós-lançamento da experiência original. [4]

Death Stranding: Director’s Cut (2021) já indicava uma intenção de diminuir a vulnerabilidade de Sam, que na versão original era um simples portador que precisava se virar com ferramentas e armas não letais para se defender das EPs e garantir que sua carga chegasse intacta. O Director’s Cut empoderou Sam, aumentando as ferramentas disponíveis para se defender e navegar pelo mundo com mais facilidade, favorecendo mais ação com novas armas, um campo de tiro e corridas de veículos. Também incluiu gadgets que simplificavam algumas das dificuldades do terreno, reduzindo o desafio da travessia. [4]
Em Death Stranding 2, essa tendência é ainda mais evidente. O jogo oferece mais variações de missões de entrega, que vão desde resgate de cargas perdidas ou animais (sim, a fauna australiana faz parte do gameplay), eliminar EPs ou tomar acampamentos de sobrevivencialistas/bandidos, resgatar reféns, e também há cargas de grandes volumes que podem ser entregues com os inéditos monotrilhos, que facilitam muito as viagens. [3]
Embora não revolucione a jogabilidade, as entregas são menos maçantes, especialmente em montanhas nevadas, que eram torturantes no primeiro jogo, mas são um passeio mais agradável na sequência. Em suma, entregar se tornou, de certa forma, mais divertido com os recursos inseridos. [3]

As mudanças climáticas podem ser um empecilho em alguns momentos, mas com certa atenção, o jogador não se afogará em um rio durante uma enchente ou será pego em uma avalanche ou deslizamento de pedras durante um terremoto. [3]
A exploração continua graciosa, e viver a natureza inóspita de Death Stranding 2 é, de certa forma, acolhedor, embora as EPs e os perigos climáticos sejam preocupantes. Construir caminhos por meio das funções online se mantém ótimo e cativante. É recompensador ajudar porque constantemente você é ajudado por outros jogadores. [3]

Críticas Sociais e a Essência da Conexão
Além da trama principal, Death Stranding 2 tece críticas sociais profundas. A forma como a tecnologia e as grandes corporações interferem na vida e na liberdade, com paralelos claros aos Patriots de Metal Gear, é um tema recorrente. O jogo também aborda o impacto prejudicial das redes sociais, questionando a verdadeira natureza da conexão. A mensagem central é clara: não basta se conectar com tudo ou possuir tudo, se no fim você não está conectado consigo mesmo. [3]

O jogo explora a ideia de que a existência no mundo digital pode corroer a alma humana, e que as interações físicas – especialmente em um ambiente pós-pandêmico – se tornaram ainda mais preciosas. Kojima parece estar fervilhando de pensamentos sobre como a arte e a expressão individual nunca podem ser substituídas pela inteligência artificial, não importa o quão forçada ela seja. [1]
Esses são temas que Kojima tem abordado há décadas, mas que permanecem frustrantemente atuais e dignos de comentários contínuos em um contexto moderno. É um crédito à narrativa que todos esses conceitos brilham, sem ficarem muito sobrecarregados ou obscurecidos pelas armadilhas da ficção científica em que poderiam facilmente afundar. [1]
Mas Death Stranding 2 não olha apenas para fora. É tão introspectivo quanto qualquer obra de Kojima até hoje. Metal Gear Solid sempre abordou questões geopolíticas e nucleares em larga escala, e o Death Stranding original desafiou nossa capacidade de realmente nos conectar como humanos em uma era digital – uma realidade dura quando confrontada com a pandemia que ele antecipou por meros meses. Mas On the Beach faz perguntas sobre as questões levantadas nesse texto original. É autoanalítico, mas raramente se perde em si mesmo, entregando uma história impactante que funciona em muitos níveis. [1]

O tema da conectividade, apropriadamente, tece cada parte díspar, explorando não apenas como nos conectamos uns aos outros, mas também com nossos próprios passados. O que escolhemos manter e o que escolhemos deixar ir. Não é coincidência que Neil se assemelha a Solid Snake, um personagem com quem Kojima teve que fazer as pazes ao cortar laços desde sua saída da Konami há uma década. Death Stranding 2 quase parece um funeral para seu amado operativo de bandana. [1]
Conclusão: Um Legado em Evolução
Death Stranding 2: On The Beach é mais do que uma sequência; é uma declaração. Hideo Kojima entrega uma obra que refina o que já era bom, adiciona elementos empolgantes e aprofunda sua visão de mundo de forma corajosa e sem concessões. Com uma narrativa envolvente e cheia de reviravoltas, jogabilidade aprimorada e críticas sociais pertinentes, o jogo se posiciona como um novo marco na carreira do lendário desenvolvedor.

Prepare-se para uma jornada inesquecível, cheia de mistérios, emoções e, claro, muitas entregas. Death Stranding 2: On The Beach é um testemunho da capacidade de Kojima de criar experiências que transcendem o mero entretenimento, provocando reflexão e debate sobre a condição humana em um mundo cada vez mais conectado e, paradoxalmente, isolado.

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[1] IGN. (2025, June 27). Death Stranding 2: On the Beach Review. Disponível em: https://www.ign.com/articles/death-stranding-2-on-the-beach-review
[2] IGN. (2025, June 27). Death Stranding 2: On the Beach – Ending Explained. Disponível em: https://www.ign.com/articles/death-stranding-2-ending-explained
[3] TheGamer. (2025, June 23). Death Stranding 2: On The Beach Review – The Sequel Hideo Kojima Wanted It To Be, But What About You?. Disponível em: https://www.thegamer.com/death-stranding-2-on-the-beach-review/
[4] GameSpot. (2025, June 27). Death Stranding 2 Review – Tied Up. Disponível em:https://www.gamespot.com/reviews/death-stranding-2-review-tied-up/1900-6418377